A criação de abelhas e seus desafios
Uma das alternativas para famílias rurais é a criação de abelhas, exploradas comumente em áreas cobertas por floradas nativas. Além da produção de sementes e frutos, esta atividade agrária oferece produtos nobres, facilmente absorvidos pelo mercado. Dados não oficiais apontam que atualmente, a produção de mel no Brasil alcança a 40 mil toneladas por ano, com o montante de 50 mil criadores de abelhas e cerca de dois milhões de colméias e o movimento financeiro do mercado apícola alcança patamares perto de 360 milhões de dólares (CBA, 2007).
No Brasil se destacam dois grupos de criadores de abelhas:
A apicultura
No estado do Rio de Janeiro, a Apicultura representa uma atividade de grande expressão, congrega mais de dois mil apicultores sendo a maioria em regime familiar, envolvendo diretamente mais de seis mil pessoas. Segundo o censo apícola realizado no estado do Rio (Lorenzon et al, 2008), as deficiências dos apiários alcançaram mais de 60% dos apicultores nos últimos cinco anos, cujos prejuízos estimados giram perto de R$1.500.000,00 em produtos apícolas por ano (Lorenzon, 2005). Há perdas de colméias relatadas em 72 dos 92 municípios conforme censo-2006 e o grupo de municípios com altas perdas está representado por 57 municípios (Pacheco, 2007). Ver tabela 1.
Tabela 1 – Caracterização da classe apícola. RJ. 2006.
Produção mel média/colméia/ano | 14,45 kg | Apicultores que pertencem
a entidades de classe |
30% |
Número médio colmeias/apicultor | 19 | Apicultores que recebem
assistência técnica |
27% |
Municípios com produção abaixo da média do estado | 51% | Apicultores com altas
perdas de colmeias |
60% |
Atividade apícola é complementar | 84% | Municípios com altas
perdas em apiários |
72 |
Uso de capital próprio | 99% | Apicultores com relatos de
enfermidades de abelhas |
54% |
Fonte: SESCOOP-RJ (2006)
Os dados do censo apícola de 2006 indicam uma fraca assistência ao apicultor, em especial quanto as perdas advindas da ingerência tecnológica e da falta de um programa de sanidade para o estado do Rio de Janeiro. O censo alertou ainda que poucos apicultores recebem assistência técnica, praticamente não são inscritos como produtores rurais e é rudimentar o emprego das técnicas apícolas. Creditam-se estes dados os baixos índices de produtividade, em que mais de 50% dos municípios se encontram com produção de mel por colmeia abaixo de 14 kg.
Os produtores estão organizados em associações de criadores de abelhas, centralizadas na Federação das Associações, elos de extensão e técnico. As associações fluminenses se mantêm por meio da contribuição mensal dos seus associados, seja por doações e por projetos. No que pesem as dificuldades dos produtores apícolas, o estado do Rio se destaca como um dos maiores centros consumidores de mel do país.
A Apicultura é uma atividade agrária associada à tecnologia relativamente fácil de ser implantada e manuseada e, por esta razão, tem sido sugerida como modalidade importante para o desenvolvimento da agricultura familiar. No entanto, a criação de abelhas melíferas tem se tornado cada vez mais tecnificada e de alto custo, o que por vezes dificulta o acesso das famílias rurais à cultura, ou à sua manutenção dentro da atividade. Nesse sentido é fundamental estabelecer as técnicas usuais e inovadoras de manejo, para minimizar o processamento dos produtos apícolas e apaziguar os custos de produção, de modo a valorizar a atividade familiar.
Breve histórico sobre a apicultura fluminense
O início da apicultura no estado do Rio de Janeiro data da mesma época em que as abelhas europeias Apis, trazidas pelos imigrantes europeus, aportaram no solo brasileiro (1839). Nesse período, o perfil do apicultor fluminense era idêntico ao da região Sudeste, de total amadorismo, engendrando uma pequena atividade que objetivava atender a própria demanda dos apicultores, de seus familiares e amigos.
O desenvolvimento pleno da atividade ocorreu por meio da criação do Instituto de Zootecnia (IZ) em 1946 pelo MAPA na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Nesse período, o IZ fomentava a apicultura nacional remetendo materiais e prestando serviços de assistência. Essa fase foi primordial para a afirmação da atividade apícola no Rio de Janeiro.
Como os demais estados do Brasil, o estado do Rio de Janeiro ficou à deriva no processo de africanização das abelhas, que trouxe expressivo desamparo, desestímulo e desinteresse aos apicultores. Este novo panorama, somado a desvinculação do MAPA do IZ, culminou no encerramento do setor apícola da UFRRJ na década de 70.
Atualidades e demandas da apicultura fluminense
Na década de 70, a criação da Associação dos Apicultores do Rio de Janeiro (API-Rio) veio engendrar cursos para capacitação, assistência técnica e ideais cooperativistas, buscando a reestruturação da apicultura em nosso estado.
Na década de 80, novos caminhos foram trilhados por meio de pesquisas e novas técnicas de manejo foram implantadas nas regiões Sul e Sudeste.
A partir de 1990, a apicultura no estado do Rio de Janeiro foi alvo de levantamentos e censos, que tinham por objetivo descrever e identificar os possíveis gargalos da atividade, para que então, fosse feito um rol de ações para saná-los. Foram realizados três importantes diagnósticos: o Censo Apícola em 1994, uma iniciativa conjunta da Cooperativa Apícola do Rio de Janeiro (COAPI-Rio) e a EMATER-Rio; o Censo Apícola de 2006, que recenseou 72 municípios com apicultores, uma cooperação entre o SESCOOP, SEBRAE, FAERJ, MAPA, UFRRJ,e SEAPEC, abrangendo 75 municípios do Rio de Janeiro e que recenseou 1.418 apicultores; e o Levantamento Apícola de 2009, uma ação dessas mesmas entidades no período 2009 a 2010.
O Censo Apícola de 2006 revelou que 95% dos produtores são capacitados, 30% são filiados às entidades de classe e 19% recebem assistência técnica do governo e 2% de cooperativas e associações. Diversos erros triviais na tecnologia apícola foram identificados e os indicadores de produção revelam que 56% dos produtores sofrem perdas de colmeias e 33% estão em nível baixo de produção. Isto reforça a necessidade de uma nova postura de enfrentamento pelos gestores, cerceada pelo fomento da capacitação, cooperação e assistencialismo técnico da atividade.
Meliponicultura
O outro segmento da criação de abelhas é o que envolve as abelhas silvestres sem ferrão, conhecida como Meliponicultura, em que a maioria das espécies de abelhas desta criação é pouco conhecida. No entanto, são estas espécies os principais polinizadores da flora tropical (Kerr et al., 2001, Ramalho, 2003) e, também as que estão submetidas à forte ação antrópica, culminando na extinção de algumas destas espécies em certas regiões. A adoção da criação de algumas destas espécies vem atender as famílias indígenas, a um grupo de produtores com áreas limitadas (sítios e pequenas fazendas), residências em pequenas cidades e aos projetos de desenvolvimento sustentável, próximos a unidades de proteção ambiental, por adotar formas de consumo, produção e reprodução, que melhor salvaguardam os direitos do homem e a capacidade regeneradora da terra (Nogueira Neto, 1997, Kerr et. al, 2001, Alves dos Santos, 2003, Lorenzon et al., 2009).
Para Kerr et al. (2001), a criação de abelhas, em particular das abelhas sem ferrão apresentam três características importantes: valor de conveniência, de mercadoria e moral, aspectos que amplia a aliança entre ser criador e ser produtor. Vale ainda ressaltar um dos 18 importantes itens da Carta da Terra apresentada durante Rio+ 95, para retratar a importância dos projetos técnico-científicos com abelhas:……“ fazer avançar e aplicar o conhecimento científico e tecnológico que renovem meio de vida sustentáveis e protegem o meio ambiente”. Atualmente, dos quase dois mil produtores de abelhas fluminenses, apenas 1% se dedicam a Meliponicultura no estado do Rio de Janeiro (Lorenzon et al., 2008).
Este setor é carente em incentivos, de fiscalização, para proteger nossas espécies de abelhas e de desenvolvimento de projetos ligados às unidades de conservação.